sexta-feira, 25 de maio de 2007

Quero ver se você chora como eu... Não pelo drama, mas pela cruel semelhança com a realidade! - AGORA OU NUNCA, de Mike Leigh.


Tijoladas de realismo na vidraça cardíaca de quem assiste.
(Que frase!)

Vem carregado de tristeza e melancolia na sua semelhança com a realidade. É a crueza que emociona. Impossível não se apiedar dos personagens ou chorar com eles e por eles. A indiferença com a história não é permitida. Mike Leigh, mestre da oralidade, dá mais uma prova do seu talento em trabalhar com situações simplórias e emocionantes. Suas histórias são cheias de diálogos envolventes, cortantes e sinceros. Desde o darling Segredos e Mentiras que não se via elenco tão primoroso e afinado. Com razão que ganharam o prêmio de atuação conjunta no festival de Cannes.

É quase uma extensão de seu filme anterior. A personagem de Brenda Blethyn poderia ser vizinha do povo que desfila nesse filme aqui. Todos vivem com os nervos á flor da pele. Agarram-se uns aos outros na esperança de sobreviver às tempestades de merda e pessimismo que costumam devastar a vida. É um microcosmo de desenganados suburbanos, gente trabalhadora que faz de tudo para escapar da opressão diária e se vira em 100 para manter a pobreza afastada.

Timothy Spaal e Lesley Manville são o casal condutor da trama.

Ele é um motorista de táxi que traz o sufocamento da desesperança no rosto. Lerdo, silencioso e alheio ao mundo, está tentando sempre fugir. Como todo mundo aqui. Alguns arriscam a enfrentar e mudar o seu destino, mas acabam como pássaros num quarto sem janelas debatendo-se sem ter por onde sair. Ela é a luz da sensatez numa família confusa. Trabalha num supermercado para alimentar dois filhos obesos e ainda empresta dinheiro ao marido para as noitadas.

Os dois andam na corda bamba de olhos fechados. Anos depois, Bjork diria em Dançando no Escuro: “A vida... é como se me batessem com ela”.

Que nada, os personagens aqui já estavam levando porradas da vida bem antes dela se estrepar. Nesse assombroso balanço da realidade, o casal protagonista distancia-se cada vez mais. Como numa via sacra, o calvário deles é acompanhado de perto por outros moradores do prédio e seus dramas particulares.

A colega de serviço com a filha grávida de um namorado violento, a vizinha alcoólatra que já está fora da casinha faz tempo, o rapaz que apenas observa a vizinha jovem e sexy... Tem espaço pra tudo e lágrimas pra todos. E quando o filme aparenta dar um refresco, sente-se o prenúncio de uma tragédia.

Vem chegando o momento do “all or nothing”, como diz o título original, tudo ou nada.
Um ataque cardíaco num dos filhos paquidérmicos do casal quebra a normalidade dolorosa dos dois levando-os ao confronto redentor.

A reclamação fica por conta do gosto de “quero mais” quando sobem os créditos. Com maestria Mike Leigh nos desperta tanta simpatia e carinho por seus personagens que deixa certos buracos no encerramento da história de cada um. Fica a ânsia para o desfecho digno e parcialmente feliz dos personagens. Só o casal principal e os filhos que encontram a luz.

Já é um alívio.
Vinicius Valcanaia - A Fera
Acadêmico de Psicologia, pseudo-crítico de cinema,
catedrático das catedrais, nostálgico de plantão,
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