sexta-feira, 18 de maio de 2007

18/05 - Dia da Luta Antimanicomial


E eu aproveito para dar aquela alfinetadinha na psiquiatria institucional...

No meio de toda essa confusão chamada mundo, ficamos buscando o verdadeiro significado para o rótulo de “doença mental”.
O que é doença mental, como ela se constitui, quem é o doente mental e quem somos nós para julgarmos alguém são ou incapaz de responder por suas atitudes? Essas são questões que afligem a humanidade há séculos. Porém, depois de uma série de atos tresloucados cometidos por essa tal humanidade, somos levados a crer que a nossa grande e pior doença mental está no fato de buscarmos e construirmos diferenças para alienarmos outro.

O que muitos julgam por doença mental é o típico comportamento diferente e ousado, comportamento de quem está de sacho cheio com a vida. E esse alguém quando começa a falar demais, torna-se perigoso. Ele não é escutado, valorizado ou compreendido e começa a ficar barulhento para mostrar que está vivo, tornando-se assim uma ameaça a sociedade.

E a maioria de nós abomina esse tipo de comportamento.

Vamos sempre buscar por um bode expiatório, por alguém que talvez pague pelos nossos erros para então excluirmos esse alguém de forma deliberada apenas para saciar o esquecimento global deste ser no mundo. Preferimos julgar e aniquilar todo e qualquer desvio de conduta ou comportamento para caminharmos tranqüilamente pelas ruas, arquitetar um “admirável mundo novo” (e Aldous Huxley que me perdoe, por usar o nome de seu livro assim) escondendo os problemas em instituições que utilizam a crueldade sob a fachada de pesquisa.

Após empreendermos nossa cruzada para a estigmatizar o “louco”, ele vai ficar a sua própria sorte numa instituição psiquiátrica.
Aí sim, o bicho pega.

A psiquiatria poderá então usar de seus métodos para silenciar esses errantes de comportamento inadequado. Os psiquiatras dessas instituições não esclarecem para o louco a sua condição e muito menos a sua enfermidade, mitificando cada vez mais a sua condição existencial de sofredor, prejudicando toda e qualquer recuperação do paciente. Matando a identidade, anulando traços de vida que possam existir em suas cobaias, os psiquiatras seguem incansáveis na sua tarefa de produzir loucos.
Afinal, ele viverá do quê?

Eles precisam e dependem de seus empregos institucionais e dizer que não acreditamos na doença mental é uma ofensa sem tamanho a esses profissionais. O paciente trancafiado na instituição psiquiátrica não tem voz, nem vez. Ou ele admite o seu rótulo ou conhecerá a outra face da moeda: sem chance de ter para onde fugir ou para quem pedir ajuda, ele será visto cada vez mais como louco e será calado com um simples “Não sabe o que diz”, proferido de forma sábia e justa pelo psiquiatra. Quase que me esqueço do sábio e justo psiquiatra.

Suas artimanhas são apoiadas pela ideologia que domina a mente humana e consistem em interpretar todo e qualquer sintoma como loucura, de vez em quando até por meio de tortura (assim como os inquisidores da idade média) ele arranca confissões e afirmações. Ora, quem de nós não admitirá ser Napoleão após uma sessão de eletrochoque?

Claro que isso tudo é por uma boa causa, é a ânsia de normalizar a pessoa que os leva a podar a vida existente no louco. Ele usa a força para arbitrar, controlar e solucionar o conflito humano, tem o pretexto legal da recuperação.
Ele conta também com a ajuda dos remédios, que transformam o seu paciente em algo que anda e ocasionalmente fala, quando muito grunhe.
E assim morre o pensamento do ser humano.

O louco abaixa sua cabeça e aceita a sua cruz. Sofre sem saber o porquê.
Ele ousou ser alguém diferente e foi visto como um adversário diabolicamente perigoso. Foi jogado no hospício que é o local de confinamento dos socialmente indesejáveis, para fazer parte da eterna luta entre o bem e o mal, louco versus psiquiatra.

E nós, o que fazemos?
Nada.

Se começarmos a fazer, vamos ser vistos como loucos e vamos parar em hospícios.



Vinicius Valcanaia
Acadêmico de Psicologia, pseudo-crítico de cinema,
catedrático das catedrais, nostálgico de plantão,
arroz de festa dos bares e claro,
observador perspicaz do comportamento humano!
(48) 9148 1004
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“As Bellas & a Fera”

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2 comentários:

Anônimo disse...

Antes louca e com uma mente produtiva, do que um nerd acéfalo! É isso ai Fera... Viva a loucura!!!!!!

Anônimo disse...

Da série mística "psicoterapia analítica para tratar psicóticos"?

Não sei como são as internações psiquiátricas daí de Criciúma, mas no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, que me parece ser o berço brasileiro da psicanálise -- o que pode gerar algum conflito algures --, nunca vi pacientes sendo tratados de modo desumano, "torturados" por psiquiatras e quaisquer condutas médicas que fossem antiterapêuticas ou que não preservassem a integridade dos pacientes.

É verdade que as internações psiquiátricas, antes de eu nascer, eram desvinculadas da atividade médica dos hospitais gerais, levando a condutas pouco ou nada científicas. Neste ponto, concordo.

No entanto, naturalmente, quando um paciente chega em agitação psicomotora no PS creio que a conduta deva ser uma sessão de psicanálise ou cognitivo-comportamental, uma vez que o benzodiazepínico ou o antipsicótico típico de alta potência devam ser tentativas de mentes insanas controlar a criatividade e a cognição de uma pessoa que está só quebrando tudo ao seu redor e agredindo fisicamente a todos sem motivo algum. Lógico.

Uma coisa é admitir um problema que se tem; outra é negá-lo, transferi-lo a terceiros e usar-se de artifícios que jamais um diabético utilizaria contra os doces, um hipertenso contra o endotélio ou os rins ou um aidético contra o HIV.

O que mais estigmatiza o tratamento psiquiátrico é a ignorância acerca da conduta psiquiátrica, que poderia ser esclarecida em centros de excelência. Aí, generaliza-se a culpa aos psiquiatras. Por quê?

Quanto a processos diagnósticos, os psiquiatras usam o mesmo DSM IV-TR que os psicólogos (os internistas preferem a classificação CID-10, diferente em alguns aspectos). Mas a culpa é dos psiquiatras porque eles usam remedinhos e prescrevem ECT quando a "mente criativa" não responde mais há décadas a tudo quanto é ISRS, tricíclico, IMAO e o caramba e tenta se enforcar com o fio do secador de cabelos?

Já que é tão marcante a imagem de uma pessoa sedada, seria no mínimo interessante contar quantas poças de sangue existiriam sem o hipnótico. E como você é acadêmico de Psicologia, deveria saber que os psicóticos, durante o surto, perdem completamente o juízo crítico ao ponto de considerarem por vezes ridícula sua conduta num período posterior, de remissão (considere os pacientes bipolares, por exemplo). Isso não é um "opcional acadêmico", é uma obrigação saber.

Os remédios e a ECT são o problema? Tudo bem, você enxuga o sangue do chão e carrega a culpa, porque não estamos tratando de TS em paciente terminal, nem de eutanásia, nem, muitas vezes, de pacientes com grandes traumas.

E como o argumento principal parece ter sido o "diagnóstico à força" e a "normalidade pela média", basta abrir o DSM e ler que para quase todas as enfermidades, especialmente para os transtornos de ansiedade e afetivos sem episódios de psicose (excluem-se os transtornos psicóticos por razões que você ainda irá descobrir em um estágio qualquer futuramente), há um item bonitinho, obrigatório ao diagnótico, que costuma indicar algo como "os sintomas atrapalham a atividade corriqueira do paciente" (ego-distônicos, no caso).

A bem da verdade, poder-se-ia pressupor a inexistência de normalidade pela média simplesmente somando-se a prevalência durante a vida de todos os transtornos especificados em qualquer manual diagnóstico. Lembrando que os dois desvios-padrão acima e abaixo da média de uma amostragem de valor estatístico englobam algo em torno de 95% de uma população inferida, é mais que óbvio que somente cerca de 5% da população deveria sofrer de um transtorno psiquiátrico. Só o episódio depressivo maior chega a 30-40% de prevalência na vida, o que dispensa quaisquer comentários.