segunda-feira, 7 de maio de 2007

A Psicologia Social Também Quer Respirar


“Os pobres não seriam tão pobres se tivessem a metade do dinheiro que os intelectuais gastam para estudá-los”.
(Beverly Sills)


Se analisarmos os anais da psicologia no Brasil, corremos o risco de ser tomados pela vergonha.
A sua chegada no país não foi com boas intenções, pois a psicologia chegou aqui como uma mera cópia do sistema do primeiro mundo e tinha por finalidade rotular e catalogar os seres humanos. Era uma ciência elitista e autoritária importada para resolver os problemas da nação.
Que problemas eram esses?

O fato do povo não querer viver dentro dos padrões de uma sociedade castradora, o não se adequar as normas ditas “corretas” do moralismo caquético. Os problemas eram apenas seres humanos que queriam expressar suas vontades, pessoas que queriam falar e viver a sua maneira, totalmente fora dos padrões da sociedade asséptica e pura. Homossexuais, negros, mendigos e menores abandonados eram as vítimas em especial de uma ciência totalmente pervertida em seu início.

Era muito mais fácil esconder os problemas em sanatórios, do que assumi-los e tratar com um olhar menos severo, pois porrada e eletro-choque jamais curaram alguém e o poder opressor precisava dessa psicologia que defendia teorias arcaicas para a criação de um Brasil moderno.
Porém, os poderosos jamais pararam pra pensar que o nosso país é um grande produtor de loucura. A fome enlouquece, a violência enlouquece, o preconceito enlouquece e nós somos campeões nesses três quesitos. Somos um país que dá as costas para as feridas sociais e tratamos com um “nem te ligo” a realidade que está passando fome e dormindo na rua bem diante de nossas casas ou serviços.

E isso enlouquece.

Somado a isso temos a banalização da vida, temos indivíduos mastigados pela sociedade capitalista e que chegam aos extremos de não poder mais se emocionar ou ter o direito de sentir. Buscamos conforto e tecnologia e vamos nos distanciando uns dos outros.
Hoje tudo é virtual: abraço, beijo e até o sexo é virtual. Não existe mais o contato, o toque e nem a preocupação com o outro do nosso lado. Avançamos em tecnologia e regredimos em sentimento. Não podemos exigir de pessoas desprovidas de sentimento um viver psicológico digno uma vez em que não estamos de bem interiormente, a vida ao nosso redor degringola.

Então propomos uma chance para a psicologia social.

O mundo vive cada vez mais em condições difíceis e não há tempo para carregar o universo para dentro de um consultório como propunha o antigo ensino acadêmico. Na época história pós-constituição, o psicólogo começa a ter uma importância maior e a psicologia entra na área da saúde pública para trazer a tona as problemáticas antes encerradas em cruéis instituições psiquiátricas. O olhar para os populares “loucos” começa a ser suavizado.
E não foi apenas isso. Graças a muitos jovens revolucionários e com uma imensa paixão pela vida, devemos a criação de instituições como a ABRAPSO que surgem para o psicólogo estar mais próximo da rua e para suavizar a costumeira “forca” que é a vida do brasileiro.
O psicólogo necessita de uma visão mais ampla para o mundo, precisa pensar em conjunto e negar a individualidade das quatro paredes para poder reformular as antigas teorias psicológicas, criar novas maneiras de um pensar psicológico e assim se incluir mais na esfera ética, moral e política do cotidiano de vários grupos sociais. Temos que buscar soluções para os problemas que já assolam o país para evitar que isso se espalhe em todos que cercam um único ser angustiado.

Os esforços intelectuais precisam estar a disposição da realidade para o impulso do desenvolvimento humano e da mudança social. De nada adianta ficarmos de braços cruzados enquanto crimes contra a humanidade acontecem na casa ao lado da nossa, ou pior, após o dito crime ainda pronunciarmos comentários como: “É, teve o que mereceu!”
A lei coloca o psicólogo como solucionador de problemas e cabe ao psicólogo conhecer a realidade diária e ir a fundo do problema para poder respeitar a condição humana dentro de seu compromisso social.

Só assim poderemos devolver a capacidade reflexiva ao ser social, político e psicológico para que então ocorra uma considerável melhora na sociedade e antes de tudo, ocorra o renascimento de um indivíduo mais humanizado e plenamente feliz com a sua maneira de ser.

É melhor dar a cara pra bater e tentar melhorar a sociedade e ser chamado de “louco” para transformar o mundo do que vê-lo enlouquecer a cada dia que passa.



Vinicius Valcanaia
Acadêmico de Psicologia, pseudo-crítico de cinema,
catedrático das catedrais, nostálgico de plantão,
arroz de festa dos bares e claro,
observador perspicaz do comportamento humano!
(48) 9148 1004
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2 comentários:

Anônimo disse...

Belo texto, Vinícius!

A adequação acadêmica que impele toda a forma de atendimento humanístico permeia revermos o modo como praticamos o que aprendemos na teoria; o relacionamento interpessoal, per se, é o foco. Infelizmente, boa parte das reformulações que rumam ao argumento humanista gera reformas curriculares que, academicamente falando, nada de novo ensinam a quem tem gana pelo aprendizado. Aí, acaba-se tudo na [mesma] burocracia...

Apenas um breve comentário: embora a eletroconvulsoterapia seja uma terapia arcaica e usada sem preparo anestésico à época em que não se fazia Psiquiatria metodologicamente, é um método ainda hoje extremamente eficaz (e efetivo, em noções epidemiológicas) de se controlar depressões maiores graves, refratárias a tratamento farmacológico; pacientes com ideação suicida (especialmente os que apresentam o chamado ato suicida) beneficiam-se em mais de 90% dos casos.

Obviamente, trata-se de um procedimento hoje em dia realizado sob sedação e, algumas vezes, sob bloqueio neuromuscular; impede-se, então, aquela cena que lembra, claro, uma tortura.

Um abraço.

Juliana Dacoregio disse...

Eu iria comentar a mesma coisa que o Felipe ali em cima. A terapia eletro-convulsiva (ou eletro-choque) já foi usada sem cautela no passado e os filmes ainda ajudaram a criar a aura de tortura e crueldade que nos vêm à mente quando pensamos nela. Mas a verdade é que para muitos depressivos com altas tendências suicidas, que já haviam tentado e falhado em vários outros tratamentos, a terapia do eletro-choque foi a única coisa que os trouxe de volta a uma relativa normalidade. Se você quiser, caro colega e amigo Vinny, posso te emprestar um livro que têm um capítulo inteiro dedicado a isso: é O Demônio do Meio-Dia. Se vc quiser tbm, podemos colocar vc numa banheira cheia d'água e jogar um secador de cabelos ligado!!! Vai que a gente cria um novo método: caseiro e muito mais barato!
(crianças, não tentem fazer isso em casa!)
aaahhh..... inclusive, após aquele pequeno incidente com sua caneta, eu me senti muito mais disposta e de bem com a vida! Tá aí a terapia de choque se expandindo a todos os meandros da sociedade e mostrando a que veio!