domingo, 26 de agosto de 2007

EU JÁ SABIA, MAIS AINDA NÃO ENTENDO

ESPECIAL


Neste domingo o primeiro artigo da série "Artigos Especiais" é da nossa ex-Bella, a jornalista Juliana Dacorégio. Todas as semanas os amigos que tiverem algum pensamento, alguma coisa que gostariam de tirar da gasveta podem encaminhbar para o nosso e-0ail asbellaseafera@gmail.com que teremos o prazer de ppublicar, confira o texto de Juliana abaixo:
Um lado meu sabia que eu não poderia esperar mais nada daquelas pessoas. Um lado meu sabia que, abandonando minhas antigas crenças, pouco a pouco eles iriam me abandonar também. Um lado meu sabia que se eu virasse as costas para o estilo de vida que compartilhávamos, eles virariam as costas para mim. Eu sabia disso tudo e continuo sabendo. Vi acontecer com outras pessoas. Mas eu tenho outro lado: que acredita na sinceridade do ser humano, que acredita na amizade e, vejam só que ingênuo, acredita nas palavras das pessoas. Esse lado do meu ser ainda continua perplexo, continua não querendo acreditar...

Ele não quer acreditar que foi traído e enganado. Não é auto-comiseração. Ele simplesmente ainda tenta achar uma explicação para o fato de pessoas com quem ele conviveu durante quatro anos terem desaparecido de sua vida sem deixar rastros, nem vestígios. Precisavam tanto de mim, pediam-me conselhos, queriam saber minha opinião. Hoje não querem saber minha opinião sobre mais nada. Minha opinião não importa mais, pois a partir do momento que passei a não compartilhar mais de suas crenças, minha opinião não importa mais. Porque, para eles, minhas opiniões são como uma praga contagiosa, que pode contaminá-los e afastá-los do bom caminho.

Sou pária. Persona non grata. E quanto mais exponho minhas opiniões sobre os assuntos “divinos”, mais indesejada sou. Pensam que escrevo estas coisas por estar magoada, pensam que esta mágoa me afastou de Deus, pensam que meus escritos são uma vingança... Não. Apenas escrevo do que sei e vivi, escrevo sobre as experiências que me marcaram, escrevo sobre o que observo. E aquele meu lado que acredita nas pessoas ainda procura entender, ainda está assustado com a maneira como alguém pode deixar de ser amado, de ser querido, de ser desejado como amigo, como confidente, como conselheiro, simplesmente porque resolveu deixar um estilo de vida, simplesmente porque resolveu se questionar... E não somente se questionar, como não aceitar qualquer resposta pronta que lhe fosse imposta.

Pensam que escrevo para chamar a atenção. Sim. Certamente também quero chamar a atenção. Chamar a atenção para que não caiam na mesma rede que caí; para que outros não se deixem envolver por tanto amor, tanto companheirismo, pois eles só vão durar enquanto você estiver disposto a aceitar as respostas prontas. Talvez para muitos seja uma boa troca. Você guia minha mente e em troca recebo amor, carinho e atenção. E se eu fizer tudo bem direitinho recebo até algum status em forma de liderança. Recebo o privilégio de “ser usado por Deus”, recebo um cajado para doutrinar minhas pequenas ovelhas. Sim, receberei ovelhinhas também, seres humanos que vão tomar-me como exemplo, que vão buscar minha aprovação e até mesmo minha bênção. Literalmente terei o poder de abençoar e de dar meu veredicto sobre as escolhas de outras pessoas.

Quem já experimentou o amor que os cristãos-evangélicos ou outros membros de seitas têm para dar, sabe do que estou falando. Se não sabe e quer saber, comece a freqüentar uma das muitas igrejas neo-pentecostais que se proliferam pelo país. Demonstre algum interesse pelo que estão pregando e diga que talvez você esteja precisando encontrar um caminho. Você nunca se sentirá tão amado e querido em sua vida!

A não ser que você seja alguma celebridade e tenha fã-clubes com seu nome, aí talvez você já tenha experimentado a sensação de importância que você vai sentir lá. Se não, você realmente vai ficar abismado com o calor humano, o carinho, a proteção, o abrigo, o amor que vai encontrar. Seu telefone tocará como nunca, você se sentirá parte de um grupo, você será alguém, sua presença será desejada em cada reunião, você será muito, muito amado. Só não pense que este amor vai lhe seguir em quaisquer circunstâncias. Não vai, não.

Quando um viciado em crack deixa o vício e diz “não” sempre que os antigos companheiros de droga o tentam com convites a usar mais um pouco, logo os amigos ainda viciados não o procuraram mais. Experimente compartilhar a mesma fé de uma turma de evangélicos por algum tempo. Depois experimente não crer mais em Deus, por exemplo, e dizer não sempre que tentarem te convencer de que você está comprando uma passagem só de ida para o inferno (sim, como último recurso eles farão isso)... Faça isso e você verá que não serve mais para os viciados em Jesus!

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